Letalidade policial atinge 4.068 pessoas em nove estados brasileiros, com 86,2% das vítimas sendo negras, aponta relatório
A violência estatal no Brasil mantém um padrão preocupante de disparidade racial, conforme detalhado na sexta edição do relatório “Pele Alvo: crônicas de dor e luta”, divulgado pela Rede de Observatórios da Segurança (ROS). O estudo revelou que, em 2024, policiais mataram um total de 4.068 pessoas em nove estados monitorados, uma média alarmante de 11 vítimas por dia. Destas mortes, a imensa maioria – 3.066 indivíduos – era composta por pessoas negras, totalizando 86,2% dos casos registrados.
Os dados analisados pela Rede de Observatórios da Segurança foram obtidos através de pedidos formais via Lei de Acesso à Informação (LAI) e cobriram as estatísticas de letalidade policial nos estados do Amazonas, Bahia, Ceará, Maranhão, Pará, Pernambuco, Piauí, Rio de Janeiro e São Paulo. A análise demonstra que a cor da pele não é apenas um fator estatístico, mas persiste como o principal fator determinante da violência perpetrada pelo Estado. De acordo com o relatório “Pele Alvo”, indivíduos negros possuem 4,2 vezes mais chances de serem vítimas de ações policiais letais nesses nove estados do que indivíduos brancos, caracterizando a letalidade como um padrão estrutural de racismo.
O perfil das vítimas reforça a concentração da violência nas populações mais vulneráveis. A juventude é majoritariamente atingida, sendo que 57,1% do total de casos envolveram jovens com idades entre 18 e 29 anos. Além disso, o relatório destacou a vitimização de adolescentes e crianças: 297 vítimas eram crianças ou adolescentes com idades entre 12 e 17 anos, e houve até mesmo o registro de um caso envolvendo uma criança de até 11 anos. A persistência dessa concentração etária e racial sublinha a tese de que a letalidade policial não é aleatória, mas sim direcionada. A Rede de Observatórios da Segurança frequentemente reitera que a falta de políticas públicas efetivas para a redução da letalidade e a responsabilização policial contribui diretamente para a manutenção desses índices elevados.
Em uma análise focada nas unidades federativas, a Bahia se manteve consistentemente no topo da lista de letalidade policial em números absolutos. O estado registrou 1.556 mortes decorrentes de intervenção policial no período analisado. A disparidade racial baiana é ainda mais extrema, onde o risco de uma pessoa negra ser morta por ação policial é seis vezes superior ao de uma pessoa branca. Enquanto isso, o estado de São Paulo, embora não lidere o número absoluto de óbitos, registrou o maior aumento percentual na letalidade policial entre todos os estados monitorados.
São Paulo tem visto uma escalada no número de mortes decorrentes de intervenções policiais desde 2022. O estudo aponta que, em um período de três anos, o estado paulista sofreu um aumento de 93,8% na letalidade policial. Esse crescimento acelerado em São Paulo coloca em evidência a necessidade urgente de revisão dos protocolos de segurança e treinamento das forças policiais, especialmente em operações urbanas. No contexto comparativo, a Polícia de São Paulo registrou um aumento percentual de 59,2% na letalidade, o maior índice de crescimento entre os nove estados, sinalizando uma tendência de agravamento da violência policial em um dos estados mais populosos do país. O relatório conclui que a violência policial direcionada pela cor da pele não é um desvio, mas sim um padrão institucionalizado que exige atenção imediata das autoridades federais e estaduais para garantir a proteção de seus cidadãos, sobretudo a população negra e jovem.
Fonte da matéria: CNN Brasil
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